A importância das residências artísticas para o fomento das artes

 

ricardo
Ricardo Ramalho

 

Ricardo Ramalho é  consultor de negócios, artista contemporâneo, fotógrafo, videomaker e curador independente. Licenciado em Educação Artística (FAAP – São Paulo), tem pós-graduações em ação cultural na ECA-USP, e curadoria e museologia na Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto – Portugal.

O sonho de viver da própria arte e ter tranquilidade para produzir é uma vontade comum para artistas de qualquer lugar do  planeta. Em São Paulo, alguns locais abrigam brasileiros e estrangeiros em residências artísticas, que fornecem estadia, ateliês e outros serviços.

prai 3NdeM– Qual a importância das residências artísticas?

Ricardo – Artista é uma pessoa que tem tempo para fazer arte, ele arruma tempo para isso, se dedica a isso. Muitas vezes vemos uma arte simples e pensamos “isto eu seria capaz de fazer”. A diferença é que o artista faz de verdade, ele não diz que faz. Arte simples também requer coragem, talvez mais coragem do que a arte rebuscada. A residência artística se insere neste modo de trabalho, onde o artista precisa parar suas atividades secundárias para fazer arte. Assim como escritores precisam de retiros para se concentrar e produzir, os pesquisadores viajam e se trancam em processos de laboratório, os artistas também. As residências artísticas também são chamadas de “artists retreats”. São essenciais para oxigenar a percepção dos artistas, permitem ver novas realidades, se afastar do dia a dia improdutivo, meditar, respirar. Numa residência, os artistas podem desenvolver projetos ou apenas contemplar o entorno, descansar o espírito num ambiente de ateliês e artistas. O artista é uma pessoa que não apenas se permite fazer arte, mas também se permite contemplar a arte e a vida.

NdeM– Como elas funcionam?

Captura de Tela 2016-07-27 às 15.55.28.pngRicardo – Uma residência artística é uma casa que recebe artistas e tem ateliês para eles trabalharem e confortos de uma casa para morarem por um tempo, que pode ser de um mês a um ano em geral. Existem basicamente dois tipos de residência: as custeadas por instituições e as independentes. As custeadas por instituições oferecem bolsas onde o artista ganha um dinheiro e toda a infra. Esse tipo de residência abre editais e são bem competitivas: são difíceis de ser aceito e participar. As independentes cobram uma pequena taxa mensal e o artista vai por conta própria. Este modelo, embora tenha um custo, acaba sendo bem mais acessível para a maioria das pessoas. O legal das independentes é que podem acolher artistas mais outsiders, escritores e amantes das artes, porque não existe uma avaliação de currículo tão rigorosa e competitiva como nas residências que usam verbas públicas.

NdeM – Como você vê o momento cultural nos dias de hoje aqui no Brasil?Captura de Tela 2016-07-27 às 16.07.01.png

Ricardo – O momento cultural não poderia estar pior. Já havia uma tradição precária de apoio às artes, e agora a coisa deu uma deteriorada. Embora exista um sólido mercado de arte em São Paulo, feiras importantes, colecionadores, galerias, museus e bienais, existe uma centralização da arte contemporânea em São Paulo. O Rio de Janeiro tem um décimo deste mercado e outras capitais têm um mercado residual. Nos Estados Unidos qualquer cidadezinha de interior tem museu e galeria de arte. Os brasileiros não foram educados para apreciar e consumir arte.  A gestão da cultura no Brasil é muito fraca. Assim como a gestão da educação. É preciso resgatar a educação e a cultura, senão vamos voltar para a idade das trevas, da falta de diálogo e sem visão crítica do entorno. Sem arte as pessoas vão apenas trabalhar, comer e dormir, eternamente, sem alternativas, e certamente com mais violência e isolamento. A função da arte é exercitar uma reflexão sobre as coisas que observamos.

prainhaNdeM-Fale um pouco sobre o projeto Prainha.

Ricardo – A Prainha Residência Artística é uma casa da minha família bem na frente da melhor praia de Itanhaém, a Praia dos Pescadores. Durante quase 40 anos a casa foi apenas para finais de semana. Como estava muito parada e custa mantê-la, ano passado resolvi transformá-la numa residência artística. Ja organizei residências em diversas outras casas, tenho uma boa experiência com isso. Atualmente também sou curador de uma nova residência em São Paulo. Em Itanhaém recebemos artistas e hóspedes do mundo todo para temporadas de um mês, ou final de semana. Estamos listados no site Trans Artists e nesta semana entramos no site Res Artis. Ambos os sites são da Holanda e agregam centenas de residências artísticas do mundo todo. Para participar de uma temporada na Prainha é só enviar um email para artistaramalho@gmail.com (Ricardo Ramalho) com uma breve carta de intenções. Pode ser analisado o currículo e projetos do candidato.

prainha 2A casa é bastante aberta, não somos muito seletivos. O custo mensal para uma pessoa é US$390, com quarto privativo, ateliê, salas, banheiros e cozinha compartilhada. Temos um grande jardim e estamos há apenas 1500 metros do centro da cidade. Outra coisa boa de Itanhaém é que está há apenas 100 km de São Paulo, então os residentes podem fazer rápidas visitas para ver programas em São Paulo.

RR Consultoria

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